- Não mais -


"Porque já não quero mais caber,
nas pequenas brechas que lhe restam."
- A.G.-

- O amor é muito específico - Para Poucos - Raro -



Você me pergunta por que eu não tenho namorado 
como quem tenta descobrir o meu defeito. 
Eu digo que não sou tão fácil, como quem responde 
“perfeccionista” na entrevista do RH. 
Não é mentira, mas também não é por isso. 
Poderia colocar a culpa nos homens e dizer que é difícil se comprometer. 
Poderia colocar a culpa “nos tempos” e dizer que é difícil admirar.
Poderia fazer que nem aquela jornalista que escreveu “se você está sozinha 
é porque você é chata” e ficar me redimindo pelas minhas neuroses, 
mas nada disso seria sincero. 
O que eu tenho pensado ultimamente e tem me trazido alguma calma 
é que o amor é muito específico. Não é mesmo fácil encontrar. 
Aparência, interesses comuns e vida profissional são critérios genéricos. 
Se não fossem, a plataforma do amor seria o Linkedin. Não é assim que funciona?! 
Pelo menos pra mim. Sempre estranhei essas pessoas que conseguem emendar namoros. 
Sai um, entra outro e fica tudo bem. Antes achava que tinham muita sorte. 
Hoje penso que são mais flexíveis.
Talvez valorizem mais a companhia do que a pessoa. 
Gostem da estabilidade de ter uma programação. 
Adaptam-se melhor ao outro, enquanto eu me prendo a detalhes. 
Apaixonante para mim é o cara que trata bem o garçom. Que me chama de um jeito carinhoso. 
Que tem pensamentos bonitos. Que nunca tenta tirar vantagem ou se fazer de malandro.
Que consegue desenrolar uma conversa agradável numa festa cheia de desconhecidos. 
Pode parecer loucura, mas para mim a paixão está intimamente ligada ao tom de voz 
e à qualidade da playlist. Gosto de quem me olha com inteligência, 
de quem me abraça com vontade, de quem não se expõe demais. 
Toda vez que eu vejo um casal feliz, imagino que eles sejam resultado 
de algum alinhamento cósmico super complicado. 
Se já é difícil amar alguém, imagina amar alguém que te ama de volta. 
Que também valoriza em você o que mais ninguém percebe. 
Considero uma missão fazer-se insubstituível num mundo em que ninguém 
mais levanta a cabeça, tão entretidos que estamos com o visor do telefone.
Como disse uma amiga, a questão não é ter um namorado: 
é ter alguém que acrescente. Enquanto ele não chega, eu trabalho, leio, 
ouço música e ando por aí. Às vezes eu surto, mas não há muito o que eu possa fazer. 
Preciso ter paciência para esperar o que mereço. 
Estou sozinha e não é culpa minha. O amor é raro.


- Sarah Westphal -
 

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