- Chover e Florir -



Já voltei, algumas vezes, com os ombros doloridos 
de carregar o peso de algo que eu mesma escolhi carregar, 
com os olhos cansados que testemunham o mesmo pôr do sol desesperado, 
com o coração calejado por sempre sentir igual.
E de tudo, concluo que sou pessoa que não se desmancha em temporal, 
sou pessoa que, só se fortalece se permanece viva dentro das quatro estações do ano, 
sentindo a cor de cada uma relevar um segredo diferente. 
Concluo que, risco meu hoje no presente de forma intensa ainda que 
eu saiba de todos os riscos que isso possa trazer à margem dos meus sentimentos.
Constato que fujo das regras e não vou nunca constar 
num relatório arrumadinho de ideias. 
Simplesmente deixo fluir minhas emergências sem deixar de priorizar minha paz. 
Não sou pessoa de aventuras, pois sou inteira demais para isso.
Aventuras precisam de gente pela metade e me perdoe, não tenho mais idade pra isso, 
pra ser assim, um estar sem compromisso, ser só uma explosão de pele. 
Isso tudo é que me fere, pois tenho consciência do tanto que me foge olhos afora 
por não se conter só dentro de mim. Me fogem sonhos demais, 
tenho beijos demais guardados, e vida demais que lateja no cantinho da alma.
Tenho a urgência mareada de quem navega pelas ondas da vida 
e busca a tranquilidade da terra firme sob os pés. 
Tenho marcas fiéis na pele que me deixaram um rastro de sabedoria 
e ainda assim, quando corro de mim, vou pelo mesmo caminho. 
Mas isso é ser livre, é saber-se tanto a ponto de se respeitar sempre.
É escolher não viver de conceitos prontos, ainda que isso traga pranto. 
É ir e vir de dentro de si, quantas vezes necessárias forem 
para chover e tantas outras só para florir.


- Lilian Vereza -

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