- Saudades de mim -


Estou indiferente, e isso me sangra sem dor. 
Sinto saudade das minhas batalhas perdidas, 
das minhas revoltas de causas pesadas ou até pouco importantes, 
das minhas angústias amargas, da minha vontade de correr o mundo, 
da minha ingenuidade poética, dos meus sorrisos com alma, 
dos meus choros sentidos. Estou mergulhada em ausências, 
e tudo que sobra é um silêncio vazio. 
Grito dentro de mim, e ecoa... 
Sou oca e acústica, mas não faço melodia, 
só sopro ventos mudos e permaneço quieta, 
caladinha e quase inexistente. 
Minhas asas andam enferrujadas do sonho de voar, 
e minha garganta economiza as utopias. 
Ando desanimada e solitária, sem aquilo que 
outrora me acompanhava como sombra. 
Estou só. Quero qualquer fevura, 
e até dissabores se isso me fizer mais viva. 
Sinto falta do meu coração inquieto, das curvas do meu caminho, 
da minha vontade de viver. 
Eu sinto falta de mim.


- Clara Melo -

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